História
O Centro Espírita Ana Vieira nasceu do sonho de duas amigas unidas desde a infância. Francisca Siqueira Bicudo, mais conhecida por Chiquinha, e Ana Vieira, nasceram em Jacareí, no interior de São Paulo.
Ambas eram de famílias pobres, cresceram juntas, casaram e tiveram famílias numerosas. Viveram anos difíceis, tendo inclusive que trabalhar para ajudar no sustento dos filhos. Com muito trabalho, perseverança e principalmente fé, se ajudaram mutuamente, assim como auxiliaram à todos que, como elas, viviam tempos difíceis.
Buscando uma melhor qualidade de vida, Chiquinha e Ana mudaram-se para São Paulo com suas famílias, a exemplo de outras milhares de pessoas que, no início do século 20, saíram de outras cidades à procura de uma oportunidade de trabalho numa metrópole. A família de Ana Vieira veio primeiro em 1916, e no ano seguinte, Chiquinha e sua família. Para ajudar no sustento, ambas trabalharam lavando e passando roupas para outras famílias. Desencarnaram na mesma condição social em que viveram toda uma existência, entretanto, muito mais ricas espiritualmente. A história destas duas mulheres não é muito diferente de outras pessoas que tiveram uma vida difícil. A realização do sonho na criação de uma casa de caridade, entretanto, as diferem das outras, mesmo que os frutos da semente plantada por elas, aqui na Terra, só tenham aparecido após o retorno à espiritualidade.
Quando já moravam em São Paulo, mais precisamente no bairro da Mooca, Chiquinha e Ana Vieira frequentavam juntas um centro espírita no bairro de Vila Mariana. A distância e a falta de transporte público naquela época dificultava a vontade das duas de frequentar mais vezes a entidade e poder auxiliar com mais facilidade os mais necessitados. Um dia, Ana Vieira confessou à Chiquinha o seu desejo de fundar um centro espírita. Infelizmente sua vontade não pode ser realizada, pois Ana Vieira veio a falecer aos 63 anos de idade em 16 de outubro de 1940.
Chiquinha, que guardou em seu coração o desejo de Ana Viera, sem condições de arcar com uma responsabilidade tão grande devido à sua idade avançada e sua condição social, pediu ajuda a seu filho mais velho a fim de auxilia-la na concretização do desejo da velha amiga. A ajuda de Benedito Soares de Siqueira na preparação de toda documentação foi de grande importância. Seis meses após a morte de Ana Vieira, mais precisamente no dia 15 de abril de 1941, Chiquinha abriu as portas de um centro es-pírita batizado com o nome da amiga.
O Centro Espírita Ana Vieira iniciou suas atividades de forma simples, num pequeno e humilde cômodo na própria residência de Chiquinha, na rua Guaratinguetá, 183, casa 11, numa antiga vila próxima da Igreja São Rafael, no bairro da Mooca.
Os primeiros anos de funcionamento da entidade foram muito difíceis, principalmente porque o mundo estava às vésperas de uma Guerra Mundial. Com a chegada de Jacareí da amiga Genésia M. dos Santos, Chiquinha, que já estava muito doente, pediu para que Genésia, com o auxílio de José Lopes e outros companheiros, continuassem os trabalhos espirituais e sociais da entidade. Mesmo doente, Chiquinha trabalhava na orientação dos frequentadores. Um dia, a casa onde morava e funcionava o Centro foi vendida, obrigando-a a se mudar para a casa da sobrinha Leonor, que morava no bairro de Cidade Dutra. Por causa da distância e de sua saúde debilitada, Chiquinha pediu a Genésia que assumisse a responsabilidade pelo Centro levando-o de volta para a Mooca. Chiquinha continuou morando em Cidade Dutra, já impossibilitada de atuar na casa.
De volta à Mooca, a entidade, agora sob a presidência de Genésia, começou a funcionar numa pequena sala em sua própria residência. No primeiro ano de gestão, o Centro foi frequentado por poucas pessoas, o que levou Genésia a pensar em encerrar as atividades por diversas vezes. O apoio do amigo e tarefeiro assíduo, José Lopes, foi fundamental para que o Centro continuasse aberto. José Lopes sempre estimulou Genésia a continuar com a casa, sugerindo sempre paciência e perseverança.
Como Genésia morava de aluguel, todas as vezes que se mudava levava o Centro consigo, o que aconteceu quando foi morar numa antiga casa localizada na rua da Mooca, 3553. Neste local, o Centro Espírita Ana Vieira ocupava um porão habitável de dois cômodos, que possuía uma entrada lateral independente.
Chiquinha chegou a visitar esse espaço, mas nesta mesma época retornou ao mundo espiritual. Com 81 anos de idade, Chiquinha desencarnou no dia 3 de setembro de 1958, na casa onde vivia em Cidade Dutra.
Quando Chiquinha ainda era viva, sua neta Deisy Passos Sanches já auxiliava Genésia no Centro na rua da Mooca. Buscando um melhor andamento da casa e visando seguir as orientações da Federação Espírita de São Paulo, Genésia pediu a Deisy que assumisse a direção da entidade em 1962.
Sob nova direção, as atividades do Centro Espírita Ana Vieira foram distribuídas em departamentos, incluindo a implantação dos primeiros cursos espíritas. Nesta mesma época, o tarefeiro Salvador Pelegrini iniciou a Assistência Social da casa. Embora já existisse desde a sua fundação, foi nesta época que o Centro passou a dar uma assistência mensal às famílias carentes, do mesmo modo como é feito nos dias atuais.
Em 1973, Deisy formou no Centro o primeiro grupo de Escola Mediúnica, da qual muitas companheiras daquela época permanecem em atividade até hoje.
Com o aumento das obras sociais e es-pirituais, o porão ficou pequeno exigindo uma mudança de local. A idéia dos tarefeiros, entretanto, não foi a de alugar um outro local maior, mas comprar um imóvel que servisse de sede própria. Com o apoio e esforço de todos os tarefeiros e frequentadores, foi adquirida uma pequena e antiga casa na rua Enta, 202, também na Mooca, local onde atualmente funciona a sede própria.
Em pouco tempo, a antiga casa também se tornou insuficiente para receber o crescente número de visitantes, exigindo uma reforma e ampliação.
Mais uma vez todos os tarefeiros e frequentadores se reuniram com a finalidade de encontrar uma solução. Como a maior parte dos tarefeiros do Centro Espírita Ana Vieira eram mulheres, foram convidados os seus maridos para uma orientação do que pudesse ser feito. Para a surpresa de todos, neste mesmo dia surgiu uma comissão com a ideia de demolição da antiga casa e a construção de um novo prédio.
O trabalho foi coordenado por Walter Roberto Areias, esposo da tarefeira Maria Aracélis Acêncio Areias, que com muito esforço e dedicação assumiu a direção do projeto.
A comissão trabalhou muito para arrecadar fundos para a construção do atual prédio, assim como da edícula nos fundos do terreno, onde mais tarde foram morar Genésia e seu companheiro Luiz. Durante o período de obras, o Centro funcionou num imóvel alugado na rua José Zappi, 453, no bairro de Vila Prudente.
Graças ao empenho de vital importância de toda comissão, no dia 15 de abril de 1978 foi inaugurado o novo prédio onde funciona a sede da entidade até hoje.
Genésia morou na edícula nos fundos do Centro até desencarnar no dia 1 de junho de 1985, oito dias antes de completar 85 anos de idade. Seu companheiro Luiz continuou morando no local, mas faleceu logo depois.
Com um prédio próprio e muito mais espaço, Deisy foi implantando novas tarefas e transferindo responsabilidades aos diretores de cada departamento. Mesmo presidindo o Centro, atuava como expositora de aulas, expositora de evangelho na tribuna, participava de todas as atividades, fossem elas espirituais ou sociais.
Pouco tempo depois, Deisy adoeceu e mesmo assim, encorajava a todos a criar mais uma atividade em prol dos mais necessitados. Poderia ser um orfanato, uma creche ou um asilo, Deisy não tinha uma ideia formada do que fazer, mas ressaltava sempre a necessidade de se fazer algo mais.
O desejo de Deisy contagiou os tarefeiros do Centro Espírita Ana Vieira que decidiram debater o assunto numa reunião marcada no dia 22 de setembro de 1989 com todos os tarefeiros e simpatizantes da causa.
Nesta data, foi realizada uma palestra explanando os ideais da entidade. No final da reunião, optou-se pela construção de uma creche para crianças carentes. Formou-se uma nova comissão de trabalho e, novamente, Walter Roberto Areias assumiu a direção dos trabalhos. A partir deste dia, a comissão trabalhou fervorosamente para que o projeto se concretizasse.
Uma antiga casa à venda foi encontrada na rua Professor Raul Briquet, 220, uma travessa da rua do Oratório, bem próximo do Centro. Com os esforços de Walter e de Eduardo de Luca, esposo da tarefeira Anna de Luca, a casa foi comprada para logo depois ser demolida. A ideia era a construção de um novo prédio, com espaços projetados exclusivamente para receber crianças.
Já muito doente, Deisy chegou a conhecer a casa adquirida, mas já estava afastada das atividades do Centro, tendo inclusive passado a presidência para Armindo Gonçalves em 1985, presidente do Centro até hoje.
Deisy Passos Sanches desencarnou no dia 17 de abril de 1990, aos 62 anos de idade.
Para que as obras da creche fossem finalizadas, a comissão continuou trabalhando, promovendo eventos para arrecadar fundos para que a entidade tivesse condições de funcionar o mais breve possível. Inaugurada no dia 25 de maio de 1994, mesmo dia do aniversário de Deisy, a creche foi batizada de Creche Irmã Chiquinha, numa homenagem à fundadora do Centro Espírita Ana Vieira.
Para que a creche pudesse receber recursos públicos e privados, foi criado o Centro de Assistência e Promoção Social Ana Vieira (CAPSAV), que administra a entidade até hoje. A Creche Irmã Chiquinha iniciou atendendo apenas 9 crianças com menos de um ano de idade. Com o passar dos anos, o número de crianças foi aumentando, sendo que atualmente recebe 147 crianças com até 3 anos e 11 meses de idade. Desde sua fundação, é dirigida por Walter Roberto Areias, sempre com o apoio das voluntárias Assunta Valéria Baroni Russo, Maria Aparecida Sartori Sígollo, Lúcia Dal Bello Rollo e a coordenadora Maria Dolores Sanches Blanes, todas integrantes da comis-são de fundação e tarefeiras do CEAV.
Em meados de 1997, um grupo de tarefeiros e alunos do CEAV, coordenados pela expositora Cristina Pinheiro, deram início ao Grupo Amigos. O grupo atendia moradores de rua, levando uma vez por semana lanches e uma palavra amiga. Em agosto de 1999, este grupo foi incorporado às atividades sociais do Centro Espírita Ana Vieira e dois anos depois o Centro de Assistência e Promoção Social Ana Vieira assumiu a tarefa, com a mudança de nome para Casa de Amigos. A entidade, que funciona num galpão na rua Teresina 139A, na Mooca, atende atualmente mais de 500 moradores de rua.
Ao fundar o centro espírita, Chiquinha provavelmente não tinha ideia de que sua casa de caridade seria levada adiante por outras gerações, constituindo-se anos depois numa entidade com diferentes atividades de auxílio ao próximo.
Numa manifestação ocorrida no final de 2005, o espírito de Chiquinha lembrou que embora o Centro Espírita Ana Vieira fosse um lugar simples, no plano espiritual era como se fosse um verdadeiro palacete. “Tenham bom ânimo” repetiu Chiquinha a frase que sempre dizia quando encarnada, pedindo a todos maior dedicação às tarefas da casa, aos estudos da doutrina e à prática do bem, pois nesta seara ainda há muito trabalho por se fazer.
O Centro Espírita Ana Vieira talvez não tenha crescido nas mesmas proporções que outros centros criados posteriormente, mas certamente atingiu o objetivo de reunir uma comunidade em torno da prática do bem baseada nos ensinamentos de Jesus e na doutrina espírita codificada por Allan Kardec.
Ao longo dos últimos anos, milhares de pessoas adentraram pelas portas do “Ana Vieira”, se empenhando nas tarefas de assistência ao semelhante, assim como milhares de pessoas visitaram a casa em busca de uma palavra de consolação. Muitas receberam e recebem até hoje, ajuda material, mas a grande maioria recebeu, e ainda recebe, os benefícios espirituais que somente uma verdadeira casa cristã é capaz de doar à seus frequentadores.
Hoje, em seu histórico, a educação de mais de 1.000 crianças, o apoio mensal à mais de 50 famílias carentes, além da ajuda a centenas de gestantes e moradores de rua demonstram que os tarefeiros da casa tem se empenhado na redução do sofrimento do próximo, praticando a caridade ensinada à mais de dois mil anos por Jesus.
Apesar das grandes dificuldades vividas pela Humanidade na Terra nestes últimos anos, atrás da frágil aparência material do Centro Espírita Ana Vieira, existe uma fortaleza com mais de 70 anos de existência, capaz de resgatar exércitos de espíritos que buscam a paz, uma luz em seus caminhos na direção da prática do amor e da evolução espiritual. São sete décadas de histórias reais, muitas vividas por irmãos que já se encontram na espiritualidade, alguns, provavelmente, já vivendo uma nova reencarnação, o que nos dá a certeza de que só temos que agradecer por esta oportunidade concedida por Deus!
Por Moacyr Passos